O vício em jogos de apostas, como o popular “jogo do tigrinho”, pode ser compreendido pela psicanálise como um fenômeno que envolve tanto o funcionamento inconsciente do sujeito quanto as condições de satisfação pulsional que o jogo oferece. Freud descreveu a compulsão à repetição como um mecanismo pelo qual o sujeito retorna incessantemente a determinadas experiências, mesmo quando estas produzem dor e frustração. No caso do jogo, cada giro ou aposta encena a possibilidade de reencontrar uma experiência de prazer absoluto, uma promessa de completude que jamais se realiza. O jogador busca, de modo inconsciente, não apenas dinheiro, mas a realização de uma fantasia de domínio sobre o acaso e de vitória contra a incerteza da vida. A cada pequena vitória, uma descarga intensa de prazer e adrenalina ocorre, funcionando como uma espécie de gozo imediato. Esse gozo, no entanto, é transitório, e o vazio retorna logo em seguida, empurrando o sujeito de volta ao ciclo.
O jogo, nesse sentido, oferece um cenário no qual a onipotência infantil é reativada. A ilusão de que se pode controlar o resultado ou “ter sorte” sustenta um narcisismo que não suporta a falta. A perda, longe de afastar o jogador, atua como combustível pulsional: o sujeito aposta de novo para tentar recuperar o que perdeu, como se pudesse reparar uma ferida narcísica. Aqui se revela a lógica masoquista do inconsciente: existe um certo prazer até mesmo na dor da perda, um gozo que emerge da repetição frustrada, como se o fracasso reiterado cumprisse uma função inconsciente de punição.
Ao mesmo tempo, o jogo mobiliza a pulsão de morte, que não visa à satisfação plena, mas à repetição sem fim, indiferente ao resultado real. A cada tentativa, o sujeito é capturado pela promessa de que “dessa vez será diferente”, o que mantém viva a engrenagem. A dependência se constrói justamente na oscilação entre o excesso de excitação e o vazio subsequente, gerando um movimento circular: aposta, descarga, perda, frustração, nova aposta. No fundo, o vício em jogos de apostas mostra como o sujeito pode se prender a um objeto que nunca entrega o que promete, mas que, paradoxalmente, sustenta o desejo e o mantém girando em torno da falta estrutural. A psicanálise nos ensina que não é o ganho que aprisiona, mas sim o gozo da repetição, o fascínio de encenar infinitamente a luta contra a própria falta.