Vivemos em uma sociedade saturada de vozes que falam alto, mas dizem pouco. Há uma proliferação de “críticas construtivas” vindas de quem nada edificou, de sujeitos que se posicionam como juízes da existência alheia enquanto não são sequer autores conscientes de suas próprias trajetórias. A Filosofia nos ensina a desconfiar das aparências, como já advertia Sócrates, “conhece-te a ti mesmo”, antes de buscar conhecer e corrigir os outros. A verdadeira crítica nasce do vínculo entre o saber vivido e o reconhecimento do outro como sujeito de sua própria experiência. Quando isso falta, resta apenas a projeção: o desejo inconsciente de controlar o outro para silenciar as próprias frustrações.
A Psicanálise, especialmente em Freud e Lacan, vai ainda mais fundo ao revelar que muitas dessas críticas ditas “construtivas” são, na verdade, manifestações do superego cruel, aquele tirano interno que, insatisfeito com sua própria impotência, tenta encontrar no outro um objeto de punição. Críticos vazios são, frequentemente, sujeitos que não suportam a liberdade alheia porque ela escancara sua própria covardia diante da vida. Não toleram o movimento criador porque se cristalizaram no medo de errar, de tentar, de se responsabilizar.
A maturidade psíquica e ética exige que saibamos de onde vem a crítica e com que intenção. Alguém que nunca construiu nada, que nunca se arriscou a errar, que vive na margem da própria vida, não possui autoridade simbólica para aconselhar. E mais: mesmo que possuísse, a responsabilidade de escutar ou não é sempre individual. Ninguém deve satisfação ao outro sobre seus caminhos mais íntimos, aquilo que Nietzsche chamou de “tornar-se quem se é” é, antes de tudo, uma travessia solitária, marcada por escolhas que não pedem aprovação coletiva.
Aceitar toda crítica como válida é, muitas vezes, trair-se. O imperativo contemporâneo de “estar aberto ao feedback” virou um mandamento superficial e moralista que pouco leva em conta a origem, o contexto e a qualidade do olhar de quem opina. Quem constrói sabe da dificuldade de cada tijolo, da dor envolvida em cada decisão e, por isso mesmo, raramente se apressa em julgar. Já quem nada cria sente urgência em corrigir, pois é na fala sobre o outro que disfarça a ausência de si mesmo.
Ser livre implica arcar com o peso da própria autonomia. É mais fácil seguir ordens do que criar princípios. É mais confortável agradar do que sustentar uma verdade íntima. Mas uma vida autêntica requer o enfrentamento do ruído social com a serenidade de quem já compreendeu que viver é um ato radical de autorresponsabilidade e que quem não teve coragem de construir sua própria casa não deve colocar regras na arquitetura dos sonhos alheios.