Por Alexandre Rossi – Dr Pet
Você sabe como cuidar do pet no frio?
As ondas de baixa temperatura, cada vez mais comuns com as mudanças climáticas, trazem riscos reais para a saúde dos animais.
Diferente de nós, que podemos colocar um casaco ou ligar o aquecedor, os pets dependem do ambiente e da nossa atenção para lidar com essas variações bruscas de temperatura.
Por isso, é fundamental saber como cuidar do pet no frio para manter a saúde e o bem-estar de todos durante os meses de inverno. Confira!
Os cachorros não possuem pelo para se proteger do frio?
De fato, muitos cães desenvolvem uma pelagem mais espessa no inverno, o chamado subpelo, que ajuda a reter o calor do corpo. Só que essa adaptação não acontece da noite para o dia.
Ela depende de um conjunto de fatores, como o fotoperíodo (quantidade de luz ao longo do dia) e a temperatura ambiente. Quando o frio chega de forma abrupta, o corpo do animal não tem tempo de reagir. E aí ele sente frio mesmo sendo uma raça resistente.
Além disso, a própria instabilidade do clima pode bagunçar o crescimento do pelo. Alguns tutores relatam queda de pelos o ano inteiro e isso pode estar diretamente ligado a essa desregulação.
Afinal, como cuidar do pet no frio?
O frio demanda cuidados específicos com o pet, envolvendo o ambiente em que eles se encontram, roupas e até vacinação. Aprenda como cuidar do animal no inverno e confira dicas para saber quando o pet está incomodado com a temperatura.
A roupa é pra ele, não pra você
É comum a gente projetar nos animais o que estamos sentindo. Se estamos com frio, achamos que eles também estão. Mas nem sempre é o caso. Um cão que está ofegante, com a boca aberta mesmo no frio, provavelmente não precisa de roupa. Por outro lado, animais mais sensíveis, filhotes, idosos ou de pelagem curta costumam sentir mais.
Em casa, eu tinha exemplos opostos. Enquanto a Estopinha sentia muito frio e parecia muito mais confortável quando estava de roupinha, o Barthô nem mesmo deitava em camas no inverno e parecia muito mais disposto quando a temperatura caía.
Se for necessário usar roupa, é importante observar o comportamento do pet. Alguns cães travam completamente quando vestimos uma peça neles. Não é “manha”: eles realmente acreditam que não podem se mexer.
Por isso, a adaptação deve ser feita com cuidado. Comece colocando a roupa sem vestir, depois vista por períodos curtos, associando a petiscos e brincadeiras. E escolha modelos confortáveis, que permitam movimentos naturais.
Casa e cama
Outro erro comum é montar um abrigo quentinho para o cão no canto mais afastado do quintal. Isso raramente funciona. A maioria dos cães prefere ficar perto da família, mesmo no frio. Se puder, coloque a cama em um local próximo à porta de entrada ou até dentro do quarto.
A cama deve ser protegida da umidade. Papelão, por exemplo, é um ótimo isolante térmico, mas perde essa função quando molha. Por isso, é fundamental usar uma base impermeável, como plástico grosso, sob a estrutura.
Cobertores também ajudam bastante, mesmo que o cachorro tenha o hábito de roer ou cavar. Isso é natural, e se ele não estiver engolindo o tecido, não há problema. Prefira cobertores de fibras naturais, que causam menos alergia e embolam menos o pelo.
Mas cuidado: algumas fibras sintéticas contêm substâncias que podem interferir no sistema endócrino ou desencadear reações alérgicas, principalmente em cães mais predispostos.
Frio, metabolismo e apetite
O frio altera o metabolismo dos animais. Quando estão tremendo, por exemplo, o corpo gasta mais energia para manter a temperatura. Isso pode aumentar o apetite e também a sede, já que a água é essencial para os processos metabólicos. Manter água fresca sempre disponível é fundamental, mesmo que o pet esteja se movimentando menos.
Apesar desse gasto energético extra, não é recomendado deixar o pet engordar. O acúmulo de gordura pode até ter feito sentido em termos evolutivos, como forma de proteção contra o frio e escassez de alimentos, mas hoje, com alimentação disponível o tempo todo e controle ambiental, a obesidade traz mais malefícios do que benefícios.
Xixi fora do lugar pode ser sinal de frio
É comum que alguns cães tenham escapes de urina no frio, especialmente fêmeas castradas. Isso pode estar relacionado à incontinência urinária, causada por uma menor atividade do esfíncter da uretra. Em alguns casos, o problema pode ser amenizado com suplementação hormonal, mas sempre com orientação veterinária.
Outra possibilidade é que o pet esteja evitando sair da caminha porque está frio demais. Um bom cobertor térmico (em pets que não roem) ou um isolamento mais eficiente pode ajudar. O objetivo é que o animal tenha coragem de levantar para fazer xixi ou beber água, reduzindo o risco de escapes e desconfortos.
Gatos e pequenos animais também sofrem
Gatos são especialmente sensíveis ao frio. Eles tendem a se encolher, deitar sobre as próprias extremidades e evitar posições mais expostas, como dormir de barriga pra cima. Muitos se escondem ou buscam superfícies mais quentes. Minha gatinha Miah já me deu vários sustos “sumindo” pela casa no inverno. E embora a maioria não aceite roupinhas, é possível criar cantinhos bem isolados e protegidos, onde eles se sintam seguros.
Em roedores, o frio pode levar a quadros de torpor ou hibernação. Em hamsters, por exemplo, isso pode ser confundido com morte, já que o animal fica mole, não reage, e o corpo esfria. O erro mais perigoso é tentar aquecer de forma abrupta. O ideal é manter o ambiente em torno de 20 °C e permitir que o retorno ao estado normal aconteça de forma gradual.
Vacinas no inverno
Com o frio, aumentam os riscos de algumas doenças respiratórias, como a tosse dos canis. A vacinação pode ser uma proteção importante, mas deve ser feita com critério. Nem toda vacina é necessária para todo animal. Converse com o veterinário e peça para ele avaliar o protocolo ideal com base nas diretrizes da WSAVA, que recomenda esquemas vacinais específicos para cada região e estilo de vida.
Frio não é só desconforto: é desafio para o corpo e para o comportamento
Cuidar bem de um pet no inverno vai além de colocar uma roupa ou dar um cobertor. Envolve entender como o corpo dele funciona, quais são suas limitações fisiológicas e como ele se comporta diante do frio.
Cada pet vai reagir de um jeito e cabe a nós observar e oferecer escolhas seguras e bem pensadas. Afinal, conforto não é luxo. É bem-estar, saúde e, acima de tudo, um gesto de cuidado verdadeiro.
Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha e Barthô (in memoriam), Bruno e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.