Black Friday: O Desejo pelo Consumo Compulsivo

A chegada da Black Friday é sempre acompanhada por uma onda de estímulos que atravessam o sujeito: anúncios luminosos, contagens regressivas e a sensação de urgência que sugere que algo essencial pode ser perdido se não for comprado imediatamente. Na perspectiva psicanalítica, esse fenômeno permite observar como o desejo humano é facilmente capturado por mecanismos externos que prometem preencher faltas internas. A lógica do consumo não vende produtos; vende alívios momentâneos para angústias antigas. Cada promoção apela ao inconsciente como se dissesse: “Aqui está aquilo que você sempre procurou”.

Freud nos lembra que o desejo nunca se satisfaz completamente, pois está sempre ligado a um objeto perdido, fantasmático e impossível de ser alcançado plenamente. A compulsão por compras, especialmente intensificada em períodos como a Black Friday, expressa a tentativa do sujeito de tamponar essa falta fundamental. O carrinho cheio funciona como metáfora de um vazio interno que, por um instante, parece menos ameaçador. Contudo, o objeto comprado, assim que chega, muitas vezes perde sua aura, devolvendo o indivíduo à mesma sensação de inquietação que o impulsionou a comprar.

É nesse ponto que Lacan aprofunda a leitura: o sujeito é convocado pela ordem capitalista a desejar mais, a querer o que não precisa, a acreditar que a satisfação está sempre no próximo item da vitrine. O desejo, que poderia ser um caminho de descoberta interna, torna-se sequestrado por discursos que prometem completude através do consumo. Assim, o sujeito não compra apenas coisas; compra significantes que supostamente o aproximariam de uma imagem ideal de si mesmo, mais feliz, mais completo, mais bem-sucedido.

Durante a Black Friday, muitos experimentam um aumento da ansiedade, uma excitação quase pulsional e uma sensação de perda iminente caso não aproveitem a oferta. Trata-se de um movimento semelhante ao da compulsão em Freud: o ato repetitivo que visa reduzir a tensão interna, mas que nunca a elimina. Comprar, portanto, vira um alívio momentâneo, não muito diferente de qualquer outro ato compulsivo que busca regular uma angústia difícil de nomear.

No consultório, é comum ver pessoas que, após o frenesi das compras, sentem culpa, frustração ou a sensação de que exageraram. Essas emoções apontam justamente para o equívoco fundamental: tentar resolver uma questão psíquica por meio de objetos concretos. O sujeito se dá conta de que a compra não toca verdadeiramente aquilo que o aflige. A psicanálise, nesse sentido, oferece um espaço para investigar essa falta, compreender de onde vem a angústia e por que ela se faz ouvir justamente nesses momentos de excesso.

Refletir sobre o consumo impulsivo na Black Friday é refletir sobre nós mesmos, sobre os modos como tentamos lidar com nossos vazios e sobre o quanto, muitas vezes, buscamos fora aquilo que só pode ser encontrado dentro. Se você deseja aprofundar essa compreensão, elaborar seus movimentos de desejo e cuidar de sua relação consigo mesmo, convido você a conhecer meu trabalho em: www.drthiagopontespsicanalista.com.br