Em tempos marcados pela pressa, pela ansiedade e pela superficialidade das relações, é necessário propor uma pausa para pensar sobre o que realmente significa viver bem. A filosofia e a psicanálise, duas formas distintas, mas complementares, de compreender a existência humana, as quais possuo formação e atuo como professor e como analista clínico em consultório, nos convidam à reflexão e à escuta interior. Ao olhar para a vida de grandes santos como Santo Antônio, São João Batista, São Pedro e São Paulo, encontramos não apenas exemplos de fé, mas também caminhos simbólicos para a construção de uma vida mais autêntica e plena. O que acha de refletirmos sobre a proposta de vida dos respectivos santos citados acima (deixando de lado o viés ideológico de uma religião específica, no caso a católica)? É um convite, uma oportunidade bem útil e interessante, posso contar com sua companhia minha querida leitora, meu caro leitor? Ótimo, pois então me acompanhe, por favor.
A filosofia, desde Sócrates, tem como proposta o autoconhecimento como base para a vida ética. “Conhece-te a ti mesmo”; é um convite para que cada indivíduo se reconcilie com sua verdade interior. A psicanálise, fundada por Freud, percorre caminho semelhante ao propor que, por meio da escuta e da análise, possamos acessar conteúdos inconscientes e lidar com conflitos internos que nos afastam de uma vida de qualidade.
Santo Antônio, celebrado como “santo casamenteiro” e padroeiro do amor, recorda‑nos que o encontro autêntico com o outro começa no diálogo sincero consigo mesmo. Na “República”, Platão afirma que uma alma bem ordenada é capaz de “amar o belo”; de modo análogo, a psicanálise mostra que só quem reconhece suas próprias carências; o “furo” do desejo, diria Lacan; pode sair de si sem projetar fantasias nem exigir do parceiro a quimera da completude. Ao promover uniões, Antônio simboliza a passagem do amor‑carência (eros que busca o que falta) para o amor‑doação (ágape que transborda), convidando‑nos a transformar a falta em fonte de cuidado e crescimento mútuo. Assim, viver bem é aprender a amar pelo que o outro é, não pelo que possa tamponar em nós; é cultivar relações em que cada pessoa, amparada pelo autoconhecimento filosófico e pela escuta analítica, encontra espaço para florescer, como o lírio que tradicionalmente acompanha o santo e lembra a pureza de um amor maduro, consciente e livre.
São João Batista, por sua vez, representa o limiar entre o velho e o novo. Sua missão de preparar o caminho para o Cristo pode ser compreendida simbolicamente como a necessidade de renunciar ao ego inflado para permitir o nascimento de um novo eu. Assim como na filosofia existencialista, em que o ser humano é visto como um projeto em construção, a psicanálise entende que a transformação é possível, desde que o sujeito se permita atravessar suas “mortes simbólicas” e lidar com suas angústias.
São Pedro é a imagem da fragilidade humana em busca de fidelidade. Negou Cristo, chorou, caiu e levantou. A filosofia estoica ensina que errar é parte do caminho humano, e que a virtude está em levantar-se. Para a psicanálise, Pedro representa a luta entre o superego que condena e o ego que busca reparação. A vida de Pedro nos ensina que a autenticidade e a coragem de assumir os próprios erros são pilares para uma vida de valor.
São Paulo, o grande missionário, é símbolo da transformação radical. De perseguidor a apóstolo, ele mostra que a mudança é possível mesmo nos contextos mais extremos. Em termos filosóficos, sua vida remete à possibilidade da conversão moral e existencial, como propunha Kierkegaard. Na visão psicanalítica, Paulo expressa o poder do recalque ser ressignificado: aquilo que antes era impulsionado pelo ódio, pode ser subvertido e canalizado para o amor.
Viver bem, portanto, não é sinônimo de ausência de dor ou erro, mas da capacidade de refletir, ressignificar e crescer. A filosofia nos ajuda a pensar sobre o sentido; a psicanálise, a sentir e elaborar; e os santos, a encarnar esse caminho na vida cotidiana. Que cada um de nós encontre na própria trajetória os sinais que indicam o rumo de uma vida mais plena, verdadeira e comprometida com o bem. Espero que essa reflexão possa gerar em você meu caro leitor, minha querida leitora, um novo olhar para a vida e o modo como a tem vivido.