A maturidade de mudar a rota

Há uma sabedoria silenciosa, muitas vezes invisível aos olhos do mundo, em saber a hora de sair de cena. Num tempo em que se cultua a persistência como virtude suprema, a ideia de recuar, abandonar uma luta ou simplesmente deixar algo para trás é frequentemente confundida com fracasso. No entanto, tanto a Filosofia quanto a Psicanálise nos convidam a uma compreensão mais profunda e mais honesta sobre os limites humanos e sobre o verdadeiro significado de maturidade e eu lhe convido minha caríssima leitora, meu caro leitor a refletir comigo acerca dessa maturidade sobre a hora certa da decisão certa visando não mais os aplausos ou o que interpretado como sucesso, mas sim a paz advinda de um ato sábio, advinda da decisão de se retirar. Posso contar com sua companhia? Maravilha, então vamos lá.

Nietzsche dizia que aquele que tem um “porquê” enfrenta quase qualquer “como”, mas nem todos os “porquês” são autênticos. Às vezes, estamos lutando por desejos que não nos pertencem, movidos por expectativas alheias, por narcisismos feridos ou por fantasias de onipotência. A Psicanálise, por sua vez, nos alerta para os mecanismos inconscientes que nos mantêm presos a situações tóxicas: a repetição compulsiva, o desejo de reconhecimento, o medo do abandono ou da insignificância. Persistir, nesse contexto, pode ser uma forma sutil de autossabotagem.

Saber a hora de se retirar exige coragem. Não a coragem heroica dos palcos ou das conquistas públicas, mas uma coragem íntima, quase silenciosa, de encarar o próprio vazio, de reconhecer que insistir já não é nobre, mas danoso. É o reconhecimento lúcido de que nem toda batalha precisa ser vencida e que algumas vitórias custam caro demais: a saúde mental, o sono, o afeto, a paz.

Os filósofos estóicos, como Sêneca e Epicteto, defendiam a aceitação daquilo que não está sob nosso controle. Retirar-se, nesse sentido, pode ser um gesto de liberdade de quem já não está preso à ilusão de domínio absoluto. Já na visão freudiana, ao nomear e reconhecer as causas profundas de nossa insistência, ganhamos autonomia sobre elas, deslocando a repetição para uma escolha consciente. Desistir, assim, não é rendição: é subversão ao destino repetitivo.

A maturidade consiste, em última instância, em compreender que nossa dignidade não reside no aplauso ou na vitória, mas na capacidade de nos escutarmos com verdade. Quando permanecer adoece, quando o corpo grita e o espírito se cala, sair pode ser o ato mais nobre e sábio. Retirar-se, então, não é perder: é se preservar. É escolher viver com inteireza, mesmo que em silêncio, ao invés de existir como ruína em meio ao aplauso.